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Sobre o silêncio que nunca mais teremos

Sou mineira. Sou tímida, digo, na minha essência, apesar de trabalhar essa deficiência desde cedo e conseguir afastá-la quando preciso falar em público. Não gosto de falar da vida do povo, não gosto de falar sobre mim. Bom, na verdade, eu até que gosto, mas evito. Resumindo, me esforço para ser antipática. Mentira!! Sou até legalzinha. rs! Porém, tudo isso, todas essas características, me tornaram uma amante do silêncio, da calma. 

Quando era criança amava entrar em lugares apertados e silenciosos e ficava ouvindo aquele zumbido do silêncio. O zumbido do silêncio é o que há de melhor!!! Nos dias quentes, deitava embaixo da cama e brincava de esconde-esconde sem que ninguém soubesse que estávamos brincando. Na adolescência ficava no meu quarto quietinha lendo, ouvindo música. Não, não tínhamos computador, como no quarto da maioria dos adolescentes de hoje. Era só a cama e o armário mesmo! Mas amava! Era o meu cantinho. Quando entrei na faculdade, ainda no primeiro período, descobri que nem todas as salas do prédio eram usadas, algumas ficavam completamente vazias. Ia para lá, pensar no escuro. Ás vezes, para estudar, outras para ouvir música. Não é que eu goste de ficar sozinha o tempo todo, queira me isolar do mundo ou que eu seja anti-social. Pelo contrário, sou bastante comunicativa e adoro um "fuzuê". No entanto, sempre senti falta de estar comigo mesma, sozinha. Excelente companhia, não é mesmo? rs! Pensar calmamente, colocar as ideias em ordem. Algumas vezes, quando tinha a oportunidade de entrar em uma piscina, mergulhava, sentava no fundo, fechava os olhos e ficava quieta segurando a respiração o máximo que conseguisse. O silêncio do meu mundo sempre me agradou, me acalmou.

Obviamente, depois de me tornar mãe, esse pequeno prazer, foi por água abaixo. Com o Samuel ainda dava para ficar um pouco a sós comigo mesma. Ô bebê quietinho! Dormia que era uma beleza!! Mas Bernardo veio para compensar, sabe? Agitado, apesar de dormir bem, quando acordava, (e ainda é assim) era como um furacão. Enquanto eram bebês, a coisa era mais tranquila, a rotina mais fácil de levar. Porém, eles cresceram. São meninos, saudáveis, graças a Deus, e por isso, estão na fase da bagunça, da confusão, da correria. Confesso, estou enlouquecendo. Minha casa nunca está silenciosa. Nunca! Eles brincam de corrida no meio da cozinha, de lutinha no sofá, de pular em cima da minha cama. de cachorrinho no chão da sala, com direito a latidos e tudo, de cabaninha, de dançar as músicas do Palavra Cantada, fingindo serem percussionistas com meus potes plásticos e colheres para batucar. 

E eu, ficava boa parte do tempo, gritando pedindo silêncio. Que coisa contraditória! Eles deveriam pensar que sou louca. 

- Grita mais baixo, gente... - Eu dizia aos berros! rs!

Neste fim de semana fui para a casa da minha avó passar o feriado. E lá, percebi que a gritaria não fazia parte de um plano maléfico de me enlouquecer ainda mais. Não era por maldade ou por vingança porque não os havia deixado comer algum doce ou jogar video-game, coisa que odeio ver criança fazendo. Não, não era isso! Eles são crianças e querem brincar e a gritaria faz parte da brincadeira, da diversão. Como brincar de fantasmas, se não dá para gritar de susto?? Sim, eles brincam disso também. Samuel coloca um lençol e Bernardo fica correndo pela casa, gritando, fingindo estar com medo.

- Que gracinha vê-los brincando, assim tão bonzinhos. - Minha Vó dizia.

- Você deve estar louca de achar isso "gracinha". - Eu pensava. 

Mas ao me lembrar da minha infância (por que sempre nos esquecemos que já fomos crianças, hein?), constatei o quanto devo ter enlouquecido minha mãe, meus tios e tias. Apesar de hoje gostar do meu silêncio, lembro-me das farras com os meus primos, dos porta-retratos quebrados brincando de gato-mia, da bagunça, gritaria e correria no quintal brincando de karaokê com água e quem errava ou cantava mal levava uma ducha de água fria. Lembrei das cabaninhas que tomavam conta da sala toda e tínhamos que juntar às pressas com o aproximar da hora que minha mãe chegava do trabalho e às vezes, não dava tempo. Pois bem. Fui criança e com muito orgulho, com muita saudade. 

Não dá para tirar isso dos meus filhos. Que eles brinquem, gritem, façam a farra que tiver que fazer, que se sujem sem se preocupar com a limpeza da roupa, que as gargalhadas sejam sempre altas e espontâneas. É o que de melhor desejo para os meus filhos. 

E vocês? Quantas vezes, você tentou ensinar seu filho a brincar? Logo nós, que esquecemos como é ser criança num estalar de dedos! Vamos fazer diferente? Bora aprender a ser feliz sem reservas com nossos filhos? E que tal entrar na farra também? Entrar na bagunça? Brincar junto? Haaa...essa fase eu não quero perder por nada nesta vida. Logo eles estarão pedindo o primeiro celular para atrofiar o polegar com o WhatsApp... Pense nisso.

=)

PALAVRA CANTADA - CRIANÇA NÃO TRABALHA

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