Sentada na sala de espera, como o próprio nome diz, à espera de entrar na sala de parto. Bernardo estava para nascer e eu aflita. Maternidade cheia em pleno feriado. A previsão era fazer o parto às 9h e já era 12h e eu sem nem um pingo de água ou comida no estômago. Várias outras mães tão nervosas quanto, aguardavam. A maioria conversando pelos cotovelos. Nessas horas, porém eu prefiro ficar calada, pensando na minha vida, na chegada do bebê, nas mudanças que virão, descansar a cabeça e me preparar psicologicamente pelo o que estava por vir.
Lembrei do Mauricio do lado de fora. Estaria tão aflito quanto eu? Não havia mais ninguém para dividir aquela aflição. Sou daquelas que gostam de dividir minha vida com poucas, pouquíssimas pessoas. Ninguém da minha família e amigos sabia onde eu estava, detesto ter que ficar mediando conflitos e estresse alheio quando a verdadeira, unicamente e com razão, estressada sou eu.
Chegamos na maternidade, como sempre, atrasados. Arrumar tudo, deixar o Samuel em lugar seguro e aguentar a ansiedade não é tarefa fácil. Ainda na recepção, tantas mamães esperando com seus vestidinhos soltos, barrigão pesado, andando com dificuldades, formavam um grupo que conversava animadamente, enquanto os pais resolviam a papelada, iam comprar coisas que faltavam ou simplesmente ficavam olhando de longe, talvez observando a naturalidade que as mães levavam aquele momento tão tenso. Como eles, eu também observava.
De repente a normalidade da fila mudou. Um médico entrou pela portaria às pressas, sem mal se identificar, deveria ser conhecido por lá por que todos trataram aquilo com naturalidade. Sem nenhum pudor ele passou para detrás do balcão de atendimento e interrompeu a mãe que estava tagarelando com o atendente.
- Olha, eu preciso que interne essa paciente agora. É uma emergência.
Do outro lado do balcão observo uma mãe com a barriga enorme como poucas vezes vi. Estava incomodada por atrapalhar o bom andamento do atendimento às outras mães. Porém, mais do isso, estava preocupada e parecia não passar tão bem quanto o restante das grávidas. O rapaz do balcão parecia um pouco confuso quanto à papelada, o médico o apressou:
- É uma urgência! Essa grávida tem que entrar para a sala de cirurgia A-G-O-R-A!! Se não, o bebê vai morrer! - O médico falou alto, sem atinar que várias grávidas estavam agoniadas e tocar em um assunto delicado como este, naquele momento, era algo complicado.
Havia me esquecido do meu bebê e da sala de cirurgia que me aguardava. Só pensei na mulher ouvindo aquilo, que o próprio bebê poderia estar morrendo dentro do seu útero naquele exato momento. Queria me levantar, tentar ajudar. Não poderia fazer muito, mas quem sabe um abraço ajudaria? Quem sabe era o que ela mais precisava?
Ela foi passada na frente de todas nós, é claro. Iríamos nos encontrar novamente já com aquelas roupas verdes horrorosas que nos vestem para entrar na sala de cirurgia. As mães conversando, reclamando da demora, contando como engravidaram, da ansiedade da família que estava do lado de fora. A mulher esboçava um sorriso, explicando que não via a hora de ver o bebê, que a operação tem que ser emergencial por que o bebê estava sofrendo lá dentro. Eles esperaram o máximo possível para que ela entrasse em trabalho de parto, o que não aconteceu. Coisas da vida e ela parecia entender ou disfarçava muito bem a preocupação. Eu mesma não conseguiria. Estaria aos prantos ou aos berros.
Ela entrou. Eu fiquei e continuei esperando. Uma por uma foi sendo chamada. Chegou minha vez, a sala cheia de médico que eu nunca havia visto. Parece que estava acontecendo um mutirão para acelerar as coisas. Era incômodo ter que ficar nua e passar pelo procedimento na frente de outras pessoas que não conhecia. Eles riam e falavam alto, pareciam empolgados e de bom humor.
Meu parto foi super tranquilo. Não pensei em nada além do meu filho, de como estava feliz em vê-lo tão bem. Depois fui encaminhada para a sala de recuperação que de tão lotada, nem me cabia direito. Lá dentro um monte de mães conversando.
- Meu Deus! Que mulherada que fala! Esses são os últimos momentos de nossa vida sozinhas, tranquilas, anestesiadas e elas só sabem falar!! - Pensei.
No cantinho, bem no cantinho, tinha uma outra mãe. Reconheci. Era aquela da sala de espera. Chorava. Muito. Observei por pouco tempo, por que as enfermeiras já foram encaminhando a moça para o quarto. Como o parto dela foi bem antes do meu, ela já poderia ir ficar com família.
Fiquei um tempo de olhos fechado, cochilando, ainda grogue pela anestesia, coisa que durou em torno de 30 minutos. Coisa boa! Outra enfermeira veio olhar meu soro e se a anestesia estava passando querendo me encaminhar para o quarto também. Na sala, além de mim, apenas outra mãe. Perguntei baixinho para a enfermeira o que havia acontecido com a moça da emergência.
- Ela perdeu o bebê, tadinha. - Foi a resposta.
Fiquei olhando para o teto, imaginando os braços vazios daquela mãe, enquanto os meus estavam com o filhote tão aguardado, tão ansiosamente esperado. Imaginei o berço vazio, as roupinhas, o pai e os avós. Imaginei a casa vazia e os objetos que pareciam agulhadas cada vez que eram vistos, pela ausência que representavam. E como ela se sentiria sendo levada para o mesmo lugar onde tantas mães conversavam sobre os bebês que tinham acabado de parir e estariam lá, no quarto esperando a chegada da mãe? Ela deveria se sentir sozinha, precisando de uma abraços, de desabafar ou de uma companhia silenciosa só para ouvi-la chorar. Ao som de risadas das outras mãe que nada sabiam do ocorrido, ela chorava baixinho e ouvia o chorinho de outros bebês que iam nascendo. Que tristeza! É claro, eu nunca saberei exatamente o que ela sentiu e espero nunca descobrir, mas ainda hoje eu penso em como aquela mulher está.
Eu espero, sinceramente, que esteja com o ninho cheio. Que tenha sido agraciada com outros filhos lindos, sua casa bagunçada, olheiras até o meio da bochecha, sem tempo de tomar banho e comer direito, correria e gritaria por todo lado e Galinha Pintadinha até não aguentar mais!! Espero que ela seja mãe realizada e feliz! Creio que ela nunca mais esquecerá do pequeno que virou anjinho naquele triste dia, mas espero que Deus conforte o coração e a lembre o quando a vida pode nos surpreender com coisas boas... tão boas.
Nada nem ninguém substituirá um filho perdido, mas gostaria tanto que mulheres que passaram por isso soubessem que nós mães, fazemos parte de um grupo seleto de pessoas com poderes incríveis de se colocar no lugar de outra mulher, ainda mais em situações como esta, a perda de um filho. Não precisa fazer segredo, não precisa esconder de ninguém ou se envergonhar. Infelizmente, é mais comum do que falam por aí. Desmerecer a dor, escondê-la não vai estancá-la. Quem dera fosse escolha.
- Haa... eu não preciso sofrer. Logo engravido novamente! - E pronto! O sofrimento para.
Mas não, não é assim que funciona! Dói na mesma proporção de perder um filho que já tenha nascido. Só uma mulher para entender a outra em casos assim. Sentimos o bebê mexendo na barriga, respondendo aos estímulos e ao som da nossa voz. É o nosso filho ali encapado em amor! Estar do lado de fora é uma mera questão geográfica, por que para nós ele já está vivo há muito tempo e o amor é tão intenso quanto seria com um filho que já nascido.
Não é só um feto. Não é um bebê qualquer. Não é bobagem. Não precisa ser superado assim instantaneamente. Deixemos as mulheres chorarem o seu luto, falarem sobre o assunto caso queiram. Quer ajudar? Ofereça ajuda, um ouvido, ombro amigo e respeite. Melhor, coloque-se no lugar!
Quem sabe assim, curaremos os corações dessas mulheres... Quem sabe assim, ao menos seremos uma sociedade mais humana e sensível ao que realmente tem importância, ao luto alheio??
Quem sabe...
A Rita Lisauskas publicou um desabafo tão bonito da jornalista Clarissa Cavalcanti que passou por 2 abortos na sua coluna Ser Mãe é Padecer na Internet!
Leia e emocione-se!
Eu espero, sinceramente, que esteja com o ninho cheio. Que tenha sido agraciada com outros filhos lindos, sua casa bagunçada, olheiras até o meio da bochecha, sem tempo de tomar banho e comer direito, correria e gritaria por todo lado e Galinha Pintadinha até não aguentar mais!! Espero que ela seja mãe realizada e feliz! Creio que ela nunca mais esquecerá do pequeno que virou anjinho naquele triste dia, mas espero que Deus conforte o coração e a lembre o quando a vida pode nos surpreender com coisas boas... tão boas.
Nada nem ninguém substituirá um filho perdido, mas gostaria tanto que mulheres que passaram por isso soubessem que nós mães, fazemos parte de um grupo seleto de pessoas com poderes incríveis de se colocar no lugar de outra mulher, ainda mais em situações como esta, a perda de um filho. Não precisa fazer segredo, não precisa esconder de ninguém ou se envergonhar. Infelizmente, é mais comum do que falam por aí. Desmerecer a dor, escondê-la não vai estancá-la. Quem dera fosse escolha.
- Haa... eu não preciso sofrer. Logo engravido novamente! - E pronto! O sofrimento para.
Mas não, não é assim que funciona! Dói na mesma proporção de perder um filho que já tenha nascido. Só uma mulher para entender a outra em casos assim. Sentimos o bebê mexendo na barriga, respondendo aos estímulos e ao som da nossa voz. É o nosso filho ali encapado em amor! Estar do lado de fora é uma mera questão geográfica, por que para nós ele já está vivo há muito tempo e o amor é tão intenso quanto seria com um filho que já nascido.
Não é só um feto. Não é um bebê qualquer. Não é bobagem. Não precisa ser superado assim instantaneamente. Deixemos as mulheres chorarem o seu luto, falarem sobre o assunto caso queiram. Quer ajudar? Ofereça ajuda, um ouvido, ombro amigo e respeite. Melhor, coloque-se no lugar!
Quem sabe assim, curaremos os corações dessas mulheres... Quem sabe assim, ao menos seremos uma sociedade mais humana e sensível ao que realmente tem importância, ao luto alheio??
Quem sabe...
A Rita Lisauskas publicou um desabafo tão bonito da jornalista Clarissa Cavalcanti que passou por 2 abortos na sua coluna Ser Mãe é Padecer na Internet!
Leia e emocione-se!
ROBERTA CAMPOS - QUEM SABE ISSO QUER DIZER AMOR?
0 comentários: