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A mãe de 30

Não. Eu não sou como há dez anos atrás. E hoje ao olhar para o espelho e perceber o quanto mudei sempre me vem à cabeça essa frase da música Lost Star do Maroon 5:

"And God, tell us the reason
Youth is wasted on the young"
 Traduzindo...

"E Deus, diga-nos o motivo
Da juventude ser desperdiçada com os jovens"

Música linda que Adam Levine canta no filme "Mesmo se nada der certo", filme gracinha que, inclusive, está disponível na Netflix.

A pergunta do filme ficou martelando na minha cabeça. E por que? Por que precisamos envelhecer e amadurecer ao mesmo tempo?

Ao me olhar no espelho foco em meus olhos e vejo que finalmente sei quem sou. Finalmente sei exatamente o que  quero da minha vida, onde chegar. Não há coração partido ou frase feia dita por uma boca maldosa ou que esteja passando por uma fase ruim, que me arrede o pé do que desejo ou me faça esquecer de quem sou. Ok, ok... Talvez momentaneamente, tempo suficiente para olhar no espelho ou nos olhos dos meus filhos e me ver refletida, para eles um porto seguro, que tudo volta à estaca zero.

Estou entrando nos 30, muito bem vividos, obrigada. Já plantei árvore, já fiz filhos, três por sinal,
agora só me resta escrever um livro, coisa que caminho a passos largos para conquistar. Já perdi pessoas "imperdíveis", daquelas que fazem falta do momento que levanto ao que coloco a cabeça no travesseiro, já tive grandes amores "invivíveis", outros que vieram e foram embora com a mesma importância de um siso na vida de alguém, ou seja, nenhuma.  Já briguei por minhas convicções, já trilhei caminhos solitários, já segui acompanhada, algumas vezes muito bem, outras nem tanto. Isso me faz melhor? Pior? Não! Me faz humana. É nesses caquinhos de vida que vamos construindo quem somos ou o que nos tornaremos.

Cheguei em um estado de espírito e de convicção que é de se admirar. Olho para os lados e percebo que todas estamos no mesmo barco. Chegamos a um novo ponto de partida. Sim, temos motivos e força para recomeçar, do zero, se assim quisermos. Estamos na fase da falta de tempo e não aquela em que você escolhe não ter tempo, como quando tínhamos os deliciosos vinte. A nossa falta de tempo é viceral e não há para onde corrermos, não está sendo questão de escolha, mas de necessidade. Não podemos parar o mundo para descer. Nossa carreira ou está de vento em polpa batendo de frente com a maternidade e temos que correr como loucas para equilibrar tudo, ou estamos em casa, esperando ansiosas as crianças crescerem um pouco, olhando o relógio e cada segundo que passa, pensando qual será a nossa reação quando finalmente o tiro de largada for dado, se iremos fechar os olhos ao barulho do estampido ou correremos como loucas para recuperar o tempo pedido. Temos amigas separadas, as poucas solteiras que restaram questionam as escolhas que fizemos como se fôssemos loucas. Lamentamos muito o que não fizemos, mas ainda estamos esperando a oportunidade de retomar a vida do ponto onde paramos. Nos sentimos sós e gostamos. Não temos tanto para conversar, nem paciência para isso. Assunto? De sobra. Mas falta vontade. Passamos tanto tempo sendo requisitadas, chamadas, cutucadas, que os minutos que nos restam de paz ou de pensamento livre que não seja pelos filhos ou casamento, é curtido como que a uma droga alucinante, cada minuto de silêncio tão esperado e apreciado.

Chegamos ao ponto certo de cocção, estamos ao ponto. Sabemos dos defeitos que temos e as marcas do corpo que, na verdade, são marcas das guerras que travamos, prova que fizemos algo de nossas vidas, marcas de superação ou de amor, como no caso da maternidade. Não nos interessa tanto o elogio furado. É no olhar de quem amamos que encontramos os verdadeiros elogios e nada disso preciso ser dito, assim em alta voz. Nós sabemos.

E quantos anos esperamos por esse dia? O dia em que seremos seguras da decisões que tomamos? Não que sejamos intocáveis ou "imagoáveis", mas sabemos que é só levantar e continuar, certas do caminho que trilhamos. Somos mães. Temos mais o que fazer do que choramingar derrotas ou tombos, mesmo os mais feios. Observo meus filhos que ao tomarem um tombo, tenho que ir dar um beijo para curar. Cura? Claro que não. É a convicção deles de que cura que tira toda a dor e os faz sair correndo novamente, mesmo com o sangue escorrendo pela canela. E eles esperam pelo tempo que for necessário eu vir com o meu beijo mágico para continuar a brincar, mesmo a dor já tendo passado. Eles precisam dessa segurança e é claro, estarei sempre aqui com os braços estendidos e o beiço arrebitado esperando a próxima queda, que sempre virá, faz parte da vida, ué. Fazer o quê?

Porém, não nos cabe mais ficar sentadas no chão esperando um beijo seja de quem for. Temos que continuar a nadar, como diria a digníssima pensadora contemporânea Dory. E por isso eu continuo a nadar. Mesmo contra a maré, a correnteza, com obstáculos ou em mar calmo. Aos 20, nós realmente achamos que viveremos muito em dez anos, fazemos mil planos e é chegando aos 30 que percebemos que de planejada a vida não tem nada. E sim, há muito ainda para ver. É com o pique renovado que temos que levantar pelas manhãs e lutar por nossos filhos, nosso sonhos e principalmente, por quem somos.

A rotina tentará nos engolir, alguns relacionamentos tentarão moldar nossa forma de falar e de portar. Por nossos filhos, muitas convicções cairão por terra e é nessas horas, em carne viva, que reconstruímos a vida da forma que sonhamos há dez anos atrás. Não será exatamente do mesmo jeito, afinal, os percalços fazem parte da caminhada, nossas prioridades mudaram e o que nosso conceito do que é bom está mais refinado, graças a Deus!

É curando nossas próprias feridas, algumas inclusive bem antigas, que reescrevemos nossas histórias, seguimos em frente, continuamos a nadar. Tudo na vida é plantado e nunca conheci alguém que tenha plantado maçãs e colhido limões. Não é que eu não me importe com as noites em claro, com a comida fria ou a espera ansiosa para que cresçam, com o coração apertado desejando no fundo, no fundo mesmo, que continuem assim para sempre. Eu sinto todo o esforço que faço para tomar o rumo que tomo. Foi questão de escolha. Estou aqui, colhendo minhas maçãs, vermelhas e cheirosas. Não nos cabe perder tempo mais com o passado ou com as dores que carregamos, levantamos, botamos nosso melhor sorriso e seguimos em frente. Contra tudo e todos, continuamos a nadar.
Sempre.


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