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A Mãe e a Solidão


Mãe é dos bichos mais solitários do planeta. Muito se engana quem pense que ser mãe é fácil, é estar cercada de carinho e chamego dos filhos. Sim, é sim. Mas não é só isso. Apesar de todo dengo dos filhotes, sentimos saudade da convivência com o mundo exterior. Somos mulheres adultas que gostamos de música, viajar, política, gostamos de expor nossa opinião, de sermos notadas e não falar apenas da alta do preço das fraldas, de como damos conta ou se ser mãe é realmente padecer do paraíso. Estamos exaustas desses assuntos. Não queremos discursar sobre a profundidade das músicas da Galinha Pintadinha... Não! Não queremos.

Frustrante mesmo é o final da tarde, quando o marido chega. Finalmente vida adulta dentro de casa para papear, contar as novidades vindas da rua. Porém, nem todo dia eles estão dispostos a conversar. Chegaram de cabeça quente, trânsito, vida corrida no ambiente corporativo e estresse para alcançar metas cada dia mais inalcançáveis. Eles também não querem ter que discursar sobre o dia cansativo que tiveram. Há! Se soubessem o quanto sós nos sentimos em casa, sem ter com quem conversar, sem poder exprimir o que sentimos realmente. Filho não entende ataque histérico de mãe, não entende a tristeza que nos assola ao vermos mulheres que conseguem conciliar vida profissional, pessoal e materna. Não por inveja, não por sermos obrigadas a maternar 24 horas por dia. Foram nossas escolhas que nos trouxeram até aqui, nós sabemos. Mas mesmo assim, é frustrante. Queríamos muito poder, como li por aí, “ser profissional como se não tivéssemos filhos e ser mãe como se não trabalhássemos fora”.

Lembro-me bem de quando meus filhos nasceram, da casa cheia, dos mimos e agrados, da ajuda que recebia. E depois? Depois vem “o depois”, ué. Marido sai para o trabalho, você que cuide de tudo, que adeque sua vida aos filhos, que esqueça do que gosta, das manias, de seus tiques que te caracterizam e se torne “a mãe”. Simples assim! Agora você não é mais uma pessoa. Você é “a mãe”. Ô ódio que tenho das consultas ao pediatra e me chamam:

- Ô mãezinha ... - Como se não bastasse o “mãe”, ainda tem que falar no diminutivo.

E desde quando deixei de ter nome? Sei que não é por mal, mas sinceramente, isso me mata! Eu lá sou mãe de marmanjo para terem essa intimidade? Me sinto uma senhora de 80 anos! Vishhh....
Eu tenho nome. Tenho uma história antes de me tornar mãe e a maternidade não anulou o que sou, o que era, do que gostava.

Antigamente, costumava odiar meu nome. Não sei porquê, mas ele não me soa bem. De uns tempos para cá, sinto falta de me chamarem pelo nome, de me reconhecerem como indivíduo, singular no mundo. Mãe tem aos montes por aí, mas a Sheila assim, desse jeitinho, só eu mesma!

Hoje me vi com inveja da vizinha do prédio ao lado, com a faxineira limpando as janelas. Ela, provavelmente, não está em casa. Está trabalhando, crescendo profissionalmente. Às vezes não. Pode ser que esteja no quarto se lamentando também por algum motivo, mas na minha imaginação, por que sempre escolho o pior para fantasiar, ela chegará exausta do dia produtivo, com o filho que ela acabou de buscar na escola, tirará os sapatos ainda na entrada, andará descalça pela tapeçaria limpa, o chão geladinho com cheirinho gostoso de limpeza e se esticará no sofá, com aquela sensação de tudo OK em casa. O filho por perto pedindo atenção não será nenhum estresse, afinal, todo o mais estará resolvido, restando tempo de sobra e o mais importante, paciência também, para aproveitar a maternidade e suas delícias.

Bom, pode ser que não seja desse jeito. Cada uma sabe da cruz que carrega, dos problemas, das coisas mal resolvidas que esquentam a cabeça e nos tira o sono, porém, é com o que eu me torturo toda noite ao olhar pela janela. Busco sempre imaginar uma historinha que me deixe mais triste, ainda mais chateada por ter passado o dia todo só com meus pensamentos.

Há! Se o mundo soubesse do quanto nos sentimos sós, das vezes que lamentamos as escolhas que fazemos, não por serem ruins, mas do ponto de vista que temos, tudo nos parece ruim mesmo. Da janelo em que observo o mundo, a visão é limitada. Não enxergo os problemas dos outros e me esquecendo de olhar para o que está dentro de casa, da minha casa, deixo de focar nos motivos que trouxeram aqui. No meu caso, três motivos lindos e bem sapecas!! É! Um dia isso passará e tudo será apenas uma lembrança. A vida corrida que nos espera e tanto almejamos não deveria nos deixar empolgadas, mas com medo. Assim, tudo tão depressa, a vida vai passando mais rápido e os esses motivos que nos trouxeram até aqui, logo não estarão mais por perto e lamentaremos os dias, as horas e minutos que perdemos olhando pela janela em vez de viver a vida aqui de dentro.

Boa noite!

TIAGO IORC - UM DIA APÓS O OUTRO

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