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Sobre o amor



Fonte: Google
Não faço parte desse mundo. Não sou daqui e já me convenci disso, apesar de tentarem me convencer do contrário. Sempre vivi no mundo da lua, lendo e relendo poemas. Lembro-me de ter lido com 8 ou 9 anos os versos:


“Se essa rua fosse minha, eu mandava ladrilhar com pedrinhas de brilhantes para o meu amor passar...” [...]


Me apaixonei pela musiquinha, pelas lindas palavras e desde então não parei mais. Devorava livros de poesia, crônicas e tudo mais que tivesse o assunto “amor” em pauta. Nenhum outro assunto me cativou tanto, me encantou ao ponto de ficar mergulhada em livros esquecendo do mundo exterior por horas. Só esse! Me apaixonar que era bom, necas! Parece que eu sempre me apaixonava por quem eu tivesse menos chance para não correr o risco de virar namoro.

- O que há de mal com o namoro? – Você deve estar se perguntando.

- Com o namoro vem as brigas, vem a humanidade de cada um e a fantasia acaba! – Eu responderia, se essa pergunta me fosse feita.

- E não faz parte da vida? 

- Sim, faz... Mas quem disse que eu tenho que viver essa vida? Não poderia ter uma vida real e outra na imaginação, perfeita? Que se enquadre nas minhas fantasias de amor eterno, juras de fidelidade e companheiros, sonhos que nunca acordamos? Por que não? Está apenas na minha cabeça! Não faz mal a ninguém! Só a mim mesma!! E que mal há nisso?

Certa vez, me apaixonei. De verdade. Daqueles que eu lia nos livros, que eu tanto desejava encontrar. Acabou não dando em nada. Engraçada a realidade. O mundo não conspira ao nosso favor como dizem, como os poetas escrevem. E quantas vezes eu quis tacar meus livros na parede de ódio? Por que me iludir tanto? Eu pensando que seria fácil.... Grande engano. Nunca é!

O tempo foi passando, idas e vindas no amor, paixões por toda uma vida que duravam algumas semanas, pessoas inesquecíveis que esquecia na primeira oportunidade, quantas reviravoltas! E fiquei me perguntando se aquele amor que senti, o primeiro, deveria ser lamentado por não ser vivido. Talvez fosse melhor assim. Talvez fosse um toque singelo de fantasia na dura realidade da vida. Um amor não vivido é a certeza que ele nunca será estragado pela boçalidade do cotidiano, pela chatice do dia a dia. Muito melhor.

A vida nos ensina que não existe o amor como escrevem por aí. Os lindos poemas que lemos são apenas para suspirar, não viver. Sinto em dizer, mas é a realidade. 

Depois de me casar, filhos, rotina cansativa, choque de realidade, li uma crônica que finalmente mostrou a realidade dos relacionamentos. Não que fizesse grande diferença agora, já que a vida nos ensina muito mais do que qualquer livro, mas ajudaria um tantinho se ouvisse dos grandes poetas algumas “verdades” que poucos tem a coragem de dizer...


“Houve uma época em que eu pensava que as pessoas deviam ter um gatilho na garganta: quando pronunciasse — eu te amo —, mentindo, o gatilho disparava e elas explodiam. Era uma defesa intolerante contra os levianos e que refletia sem dúvida uma enorme insegurança de seu inventor. Insegurança e inexperiência. Com o passar dos anos a idéia foi abandonada, a vida revelou-me sua complexidade, suas nuanças. Aprendi que não é tão fácil dizer eu te amo sem pelo menos achar que ama e, quando a pessoa mente, a outra percebe, e se não percebe é porque não quer perceber, isto é: quer acreditar na mentira. Claro, tem gente que quer ouvir essa expressão mesmo sabendo que é mentira. O mentiroso, nesses casos, não merece punição alguma.
Por aí já se vê como esse negócio de amor é complicado e de contornos imprecisos. Pode-se dizer, no entanto, que o amor é um sentimento radical — falo do amor-paixão — e é isso que aumenta a complicação. Como pode uma coisa ambígua e duvidosa ganhar a fúria das tempestades? Mas essa é a natureza do amor, comparável à do vento: fluido e arrasador. É como o vento, também às vezes doce, brando, claro, bailando alegre em torno de seu oculto núcleo de fogo.
O amor é, portanto, na sua origem, liberação e aventura. ”

(Sobre o amor – Ferreira Gullar) – Texto completo aqui.

Continuo no mundo da lua, porém hoje já entendo a diferença entre fantasia e realidade. Guardo com carinho sonhos que talvez nunca realize, mas não é nenhum drama se realmente nunca os realizar. A vida me tornou mais prática, mais simples e seca. Guardo no peito todos os poemas que li, na memória tudo que já vivi, coisas que dariam um livro também. Livro que serviria para iludir tantos outros corações por aí. Faz parte do nosso crescimento fases como esta. Quantas meninas ainda terão seu coração despedaçado! Quantas demorarão um “bocado” para caírem na real, de que tudo não passa de palavras, suspiráveis mas não vivíveis! 

De tudo isso, só tenho um conselho: viva! Tudo que a vida lhe oferecer, viva! Pode ser que algumas lágrimas caiam aqui ou ali, mas de uma coisa temos certeza: belos poemas sairão dessas experiências. Neste caso, no entanto, escreva!

JOTA QUEST - VEM ANDAR COMIGO

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