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Em um piscar de olhos

Há pouco era semente, daquelas pequeninas de caber no colo, no abraço, no útero.

Há pouco ensaiava sorrisos e eu ficava ao lado orgulhosa e apreensiva. Não queria perder nada, nenhum detalhezinho que fosse, que fizesse diferença, para mim, não para você que seguia normalmente, como deveria ser. Era eu a afetada, a louca, a frouxa. Chorava por qualquer coisa, sorria por menos ainda.

Há pouco ensaiava os primeiros passos. Arrebitava a bundinha querendo se levantar, como se fosse possível um bebê tão pequenino levantar e andar. E era. Levantou e andou. E a cada passo um pulo no meu coração, um mini ataque cardíaco em cada tropeço. Mas você me dava uma bela lição ao se levantar vencendo o próprio medo (será que existia?) e mostrando como seguir em frente mesmo diante de alguns obstáculos.

Há pouco era um garotinho de cabelo escorrido, mãozinhas gordinhas que acariciavam o meu cabelo. E dizia o quanto me amava sem travas, olhando nos olhos, sem constrangimento algum, sem medo de não ser recíproco. Era óbvio até para você o tamanho do amor que eu tinha guardado dentro de mim.

Era semente, geminou, cresceu, floresceu em cada sorriso que me arrancava, a cada lágrima nas orações que fazia.

Há pouco levantava os bracinhos pedindo colo, mostrando o quanto precisava de aconchego. Hoje quer sair sozinho, ser dono do próprio nariz, fazer as próprias escolhas, independência. Haaaa! Se soubesse o quanto dependo de você!

Fonte: Arquivo Pessoal

Ainda há pouco era um garotinho dentro do uniforme da escola que de tão grande sobrava um tantão assim. E chorava na entrada agarrado na minha perna, pedindo para não o deixar sozinho. Eu fingia a dureza que eu sei não fazer parte de mim. Mas é nesta crosta de mãe-heroína que eu disfarço meus próprios medos. E distribuindo beijos para os seus "dodóis" que eu curo o que mais dói em mim. É te ensinando o caminho certo que eu aprendo a ser mãe. E foi você quem me fez assim. Foi dando-lhe a luz - veja só que ironia! - , que minha vida se iluminou.

Há pouco brincávamos juntos, muito por lhe faltar companhia. Hoje conta histórias dos amigos, dos planos que fazem e da fidelidade inocente de criança ao dizer que serão amigos para sempre.

Há pouco te apresentava novos irmãos que foram chegando, enchendo o ninho e às vezes - confessa, vai... -, o deixando mais apertado. Tão apertado que lhes fizeram unidos. Tão unidos que lhes fizeram amigos. Tão amigos que lhes fizeram irmãos.

Há pouco era o meu bebê.
Hoje criança crescida.
E tudo isso não durou mais que um piscar de olhos.

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