Neste momento Mauricio liga perguntando se quero alguma coisa da rua.
"Uma passagem para Paris, sozinhaaa" - pensei, mas não falei! rs!
- Estamos precisando de algumas coisinhas mesmo, pão, leite, queijo... Mas volta para casa que eu mesma vou comprar. - Digo.
- Mas eu passarei na frente do supermercado, amor. Não quer que eu compre para você?
- Não!! Eu quero ir!! - Já brava...
- Tá bom! Quando eu chegar você sai. Já vai se arrumando.
Me arrumando? Que nada! Fui dar banho nos meninos, colocá-los na cama, fazer o máximo de coisas possíveis. Coisa de mãe mesmo! Quando ele chegou eu só tinha tomado banho. Me vesti correndo, não antes de criar um atrito básico com a frase esmagadora e impactante:
- Não quero levar ninguém comigo hoje!
Motivo da briga? Ele me perguntou o porquê.
- Por quê? Por quêêê? - respiro fundo para não explodir - Por que estou exausta! Quero respirar, pensar, me acalmar sozinha. Não estou com saco para conversar com criança, para administrar birras dentro do supermercado, para brincar. Brinquei o dia todo! Eles brigaram, correram, gritaram, fizeram bagunça e me deixaram louca hoje. Todo lugar que eu vou você tem que jogar uma criança para cima de mim? E quando você sai, eu não falo nada. Os filhos não são só meus. Pára com essa mania de achar que você "me ajuda". Você não tem que me ajudar! Você tem que fazer a sua parte. A coisa aqui é compartilhada!
Disse tudo isso já quase acendendo uma fogueira no meio do quarto para queimar meus soutiens!! rsrs! Com plaquinhas contra o machismo!!! rs!
Confesso, fui injusta, já que ele me ajuda tanto... Ops! Olha eu mesma caindo em contradição! rs!
Porém todo esse discurso foi estratégico. No final de tudo, a resposta dele foi:
- Quer que eu chame um taxi??
Venci!! rs!
Lá fui eu, toda feliz em poder respirar um ar fresco.
Peguei o bendito táxi e é nesta hora que o título do texto entra em questão.
- O senhor me leva ao Hot Point no Cidade Nova, por favor? - peço
- Hot o quê? Eu não conheço não.
- Então vira aqui que eu mostro. Mas o senhor não conhece o Hot Point?
- Haaa...agora sim, você pronunciou direito!
E existe outra forma de pronunciar isso? - pensei.
- Agora o senhor sabe onde fica? - pergunto.
- Não!
"Deve ter alguma câmera escondida" - Começo a olhar para os lados procurando... rs!
Ensino o caminho e passamos em frente a um convento. O taxista me diz;
- Tinha um convento aqui, sabia?
- Sabia. Tem até hoje. - Disse enquanto passava bem em frente ao convento.
- Haaa..eles demoliram. Não tem mais não.
Prefiro nem argumentar, mas ele continua:
- Inclusive, só podia entrar mulher virgem. Virgem mesmo!
Será que ele estava lá para garantir que isso acontecesse? Sei lá, parecia tão convicto!
- Haa...mas antigamente, o povo depositava tudo que não achava moralmente normal em lugares assim para não dar problema e não envergonhar a família. Meninas grávidas, por exemplo. - argumento.
- Não! De jeito nenhum. Só meninas virgens mesmo!
Meu Deus! Quê papo é esse?
Prefiro ficar calada, mas ele continua.
- Os meninos que vão cedo para virar padre também vão virgens, aliás, chegam a nunca ter uma ereção. Por que por irem cedo para a igreja, nunca ouvirem falar de mulher, não despertam a sexualidade.
Putz... é tarado! Como é que eu faço para descer?
- Eu não concordo não moço. Sexualidade faz parte da humanidade. Está na natureza do homem!- digo.
- Olha, eu não sei como é com vocês, - pronto, a tarada sou eu, então - mas com homem é assim. Eles não despertam sexualidade quando não tem contato com mulher, quando não sabe o que é. Por isso, padres são ordenados sem nunca terem uma ereção.
Está chegando, graças a Deus.
- Bom, se a pessoa tem vocação... É bom servir a Deus. Eu sou cristã e acho legal pessoas que abrem mão de tudo para servir a Deus. - tentando acabar com a conversa logo, já já está chegando.
- Eu sou ateu. Para nós, não existe Deus. Deus é homem. Quando Jesus falou na cruz "pai, perdoa-lhes por que não sabem o que fazem", as pessoas acham que ele estava falando com Deus. Mas quem era o pai de Jesus? José! Ele falava com José. O deus de cada um é o pai. O meu deus é o meu pai.
Começo a rir e digo:
- Então eu tô ferrada!! Eu não tenho pai! E o que tem de criança abandonada pelo "deus" delas, viu?
- Mas pai é quem cria. Quem foi o seu pai?
- Ninguém! Eu não tenho pai... - rindo mais ainda. - Bom, minha mãe me criou sozinha. Então ela é o meu "deus"?
- Não, é diferente - ofendidíssimo por eu não saber disso -. Amor de mãe é grande, mas é só 1% do amor do pai. - É melhor eu descer para não bater nessa cara.
- Olha, eu sou mãe e não concordo. - ele começa a argumentar - Então tá. Se você acha...
De raiva eu ainda solto:
- Fica com Deus aí! - rs!
A sorte é que pelo menos consegui pegar o supermercado aberto. Fiz comprinhas de gostosuras, por que meu plano era passar a madrugada vendo Jogos Vorazes! rs!
Na volta, peguei outro taxista. Esse era normal. Só estava cheio de dreads no cabelo, parecendo um rastafári... rs! Mauricio veio pegar as compras achando que ele realmente gostava de reggae por causa das trancinhas no cabelo. Já cansada de tantas esquisitices, aviso:
- Deixa disso, Mauricio. Só por que o cara está de dreads? Vai que ele está assim por que gosta de axé? Vai que... rs!
Foi divertido! rs!
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