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Em todo canto que olhamos, nas conversas, nas rodas e grupinhos de mães, uma infinidade de mulheres que só têm elogios a tecer sobre os filhos. Nenhum deles tem um defeito, na verdade, nós mães, nunca enxergamos ou lembramos dos defeitos dos filhos e nem alardeamos o que nos vêm à mente, na esperança de concertar tudo, aquela birra chata, a hábito de não comer legumes, a luta para colocá-los na cama... Todos comem bem e de tudo, dormem direitinho, são comportados, verdadeiros anjos. Crianças rodeadas de elogios, muitos deles, mentirosos ou exagerados, brinquedos caros, agendas lotadas que, para alguns pais é sinônimo de sucesso e amor deles para com os filhos. Para mim, sinônimo de uma infância mais curta, em que importamos da vida adulta todo o estresse e dia a dia corrido.
Em meio a tudo isso, eu me pergunto:
- Será que essas crianças sabem o quanto são amadas?
Será que o "aparentar amor" é mais importante que o amor prático? Será que não estamos substituindo o amor, aquele que demonstramos, por coisas palpáveis? E que espécie de crianças sairão de tudo isso? O que valorização?
Fui criada por uma mãe solteira, por isso, sozinha na batalha diária de cuidar dos filhos. Sempre estive próxima dos tios e tias, criada com os primos, crescendo junto. Todos ajudavam a cuidar, um pelos outros. Porém, da minha mãe, só tive convivência diária, vínculo mãe e filha mesmo, depois que nos mudamos para nossa própria casa, quando eu tinha 11 anos. Éramos só eu, minha mãe e meu irmão. Foram necessários anos e um pouco de maturidade para que eu entendesse o quanto minha mãe me amava. Ela não sabia demonstrar. Não foi criada com vínculos de afeto, não sabia como abraçar um filho, como dar um beijo de "boa noite". Nos amava profundamente, pois só uma mãe que ama muito seus filhotes para sair de um plantão de 12 horas, embarcar em outro emprego e seguir adiante para sustentar com dignidade a casa. Só uma mãe que ama muito seus filhotes para mesmo depois de trabalhar tanto, chegar em casa e nos dar atenção, cuidar de tudo e ainda cozinhar divinamente bem, só para nos agradar. Pois bem. É claro que minha mãe que amava, mas criança não enxerga esses sacrifícios que fazemos e hoje eu entendo. Demorei demais para notar o tamanho exato desse amor, coisa que vamos descobrindo aos poucos. Tive que eu mesma começar a "revolução". Demonstrar o quanto a amava diariamente com todo carinho. Já que eu cumprimentava a todos os conhecidos com beijos e abraços, por que não faria com minha mãe? O susto que ela levou quando eu lhe dei um abraço, assim do nada, valeu uma vida inteira. Azar meu foi ela morrer logo depois que comecei a me comportar diferente. Azar foi não ter aproveitado mais o tempo com ela, conversar, confidenciar segredos, papear sem compromisso, fazer algo bacana ou não fazer nada, só ficar por perto. Pude aproveitar. Pouco, mas pude.
Com base nesta experiência, crio meus filhos completamente diferente da forma que fui criada. Demonstro todos os dias o quanto os amo, digo diariamente, converso abertamente sobre todos os assuntos, digo como me sinto e o que espero deles. A caixa de brinquedos ainda está cheia, ou doamos alguns ou não compramos nada novo. Para quê enchê-los de coisas, jogos e bonecos que brincam sozinhos e não favorecem a criatividade, vídeo-games que ocupam as tardes e os deixam cegos diante da TV? Para quê? Quando saímos, é para brincar, comer algo gostoso, passar tempo juntos, só a gente. Coisa boa! Valorizo e insisto que eles aprendam o mesmo, que o tempo com as pessoas que amamos vale muito mais a pena que qualquer brinquedo caro, que o tempo bolando uma cabaninha bacana é mais legal que ficar vendo os brinquedos eletrônicos que já sabem brincar sozinhos, que fazer bagunça com os irmãos é muito mais divertido que qualquer outro amiguinho, já que terão uma vida toda para compartilhar mamãe e papai e quando eles crescerem se lembrarão com carinho de tudo isso, eu sei. Os faço pensar nas escolhas que fazem, como quando escolhem brigar com o irmãozinho.
- Quem é o seu melhor amigo, que brinca todos os dias contigo? - Eu pergunto.
- O meu irmão - É a resposta. E é exatamente isso que quero ouvir.
Como disse, não entendo essa necessidade de provarmos que amamos nossos filhos com bens materiais ou em declarações abertas nas redes sociais, que inclusive, eles nem verão. Acho lindo as declarações, eu mesma já fiz várias. No entanto, ser mãe não é só aquela maravilha. Somos mães, chatas às vezes, mandonas! Minha prioridade não é provar que os amo. Eu os amo e eles sabem disso! Não me importo de parecer uma mãe ruim, que não deixa tudo, que implica, que diz "não" sem dó nem piedade, mas é nesses atos que vejo mais amor, afinal, dói muito mais em mim cada negativa, cada bronca que dou. Sei que é melhor para eles, para que se tornem pessoas melhores, então resisto bravamente em minha chatice.
No final de tudo isso, eles crescerão, ouviremos no trajeto algumas frases feias que as crianças dizem quando os colocamos de castigo ou dizemos "não" à exigências que fazem, contudo, um dia, no futuro eles lembrarão que o relacionamento pais-filhos é construído diariamente com presença e carinho, como um castelo, feito aos poucos com tijolinhos, tudo que os ensinamos diariamente. E é na infância que está o alicerce, a fase mais complicada e importante desse projeto. Está aí a dificuldade.
Espero ter bastante tempo para contemplar minha obra, para construí-la com calma e aos pouquinhos, afinal, apesar de difícil e complicada, esta é a fase mais gratificante. Só Deus sabe o quanto fico feliz ao ver meus três bagunceiros correndo pela casa, fazendo farra juntos e felizes. Entro na farra junto. Sou daquelas mães que decoram as falas dos desenhos prediletos, que cantam e dançam junto, que jogam bola e ficam suadas brincando de correr, que participam de cada degrauzinho que sobem. Louca? Sim! Eles gostam assim e o mais importante: sabem o quanto os amo!
Boa noite!
CIDADÃO QUEM - AMANHÃ COLORIDO
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