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O dom de acolher

Fonte: maedoano.com.br
Grades nas janelas, proteção nas quinas e portas, proibido brincar perto do fogão, peças pequenas dos brinquedos escondidas para não serem engolidas, nada de correr com lápis de cor na mão ou qualquer outro objeto pontiagudo, ausência de tapetes que deslizam e causam quedas, cuidado com a TV grande que pode cair em cima do bebê caso ele tenha a brilhante ideia de subir na estante, copos e potes de vidro na prateleira mais alta e tantas outras soluções que tomamos diariamente para manter as crianças seguras.

É automático! Em todo lugar que chegamos, passamos o nosso raio-x em tudo, como um scanner e por um milésimo de segundo pensamos com a cabecinha deles, imaginando onde dá para subir, o que pode ser colocado na boca, os perigos do ambiente que adentramos. Um alarme soa em nossa cabeça, coisa que deve vir de fábrica com a maternidade, e eliminamos todo e qualquer risco aos nossos filhos. Porém eu me pergunto:

- E os seus braços? Estão sempre abertos para proteger?
- É claro! - Deve ser sua resposta imediata, sem nem pensar duas vezes.

Porém, não estou dizendo hipoteticamente. Quero falar em termos práticos. Só quem tem filho sapeca em casa para entender! Eles inventam mil novas maneiras de desafiar o scanner que fazemos do ambiente, mesmo daquele que já conhecemos bem, como o de nossa casa. Quando menos esperamos lá está uma criança estirada ao chão, chorando, pedindo por socorro.

Bernardo é assim. Inventa novas armadilhas para se machucar todos os dias. Já cismou de fazer um carrinho daqueles maiores de skate ou outros dois carrinho de patins. O que deu? Tombo, ué! E dos feios, daqueles de deixar um galo de todo tamanho na nunca! Já pulou tão alto na cama que aterrizou no chão, outro tombo. Já subiu na estante e caiu lá do alto. Foi pegar uma bola e fuçar nos livros. Torceu o pé e ficou um tempinho sem andar direito. Também já pulou embaixo do chuveiro e escorregou. E andou sem olhar para onde ia, bateu a testa bem na parede, sem dó nem piedade. E em todas essas horas, só me vem à mente uma pergunta:

- Por quê??? Por quê, Bernardo?

Minha vontade nessas horas é dar uma bronca, afinal, não é possível que ele vá repetir o feito. Impossível? Que nada! Lá vai ele todo serelepe arranjar novos "desafios" e mais dor de cabeça, não dele, minha. Volta um tempo depois com mais algum "dodói", às vezes até dá trégua de alguns dias, mas sempre paramos na mesma cena: mamãe desesperada, tentando segurar o choro e o nervosismo para acalmar a criança. Afinal, para quê dar bronca? A "punição" o resultado da sua estripulia já está ali, doendo. Nessas horas, nosso colo tem que ser o ninho onde ele irá se esconder, nossos braços, o refúgio na hora do medo e da dor. Penso não apenas na infância, mas na vida adulta, na adolescência. Que meus filhos entendam que mesmo quando fazem algo errado o meus braços sempre estarão abertos para acolher, acalmar e quando só imperar o silêncio, aí sim, vem a bronca, o conselho, as dicas, o desejo para que tudo melhore. Que eles não tenham medo, mas confiem que em mim está a segurança e verdades que necessitam ser ditas da vida, tudo com muito carinho e amor, coisa que só encontrarão nos pais ou equivalente, como avós, tias e madrinhas.

Quantas vezes estivemos em apuros e precisamos de um abraços amigo? Daqueles que não julgam, não apontam o dedo, não nos use como exemplo de nada, dê pitaco ou conselhos furados no furor da raiva de "ter que ajudar"? Inúmeras vezes estive nesta situação e depois da morte da minha mãe, é o que mais sinto falta. Se pessoas crescidas e teoricamente tão certas das decisões que tomam às vezes precisam deste colo, como julgar uma criança? Como não dar este colo, este chamego? Em quem mais eles confiarão? Onde procurarão abrigo?

Então, se seu filho te presenteou com mais uma arte daquelas de arrepiar os pelinhos da nuca, ao invés de brigar, dar chilique, apontar defeitos, falar baboseiras, torcer contra ou soltar um sonoro "bem feito", que tal dar colo? Cuidar? Ele confia em você por um motivo: é a mãe dele. Então exerça este papel com amor. Existe amor maior que acolher o filhote no ninho?

Acho que não!

MARCELO JENECI - FELICIDADE

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